terça-feira, 3 de setembro de 2013

"Um homem não chora"


1º Pelotão do Roxo, do Simas ,
do Castro e de tantos outros
militares da C. Caç. 4242 
 E à noite, entre os ruídos familiares, infiltravam-se os dessa outra noite, africana, já não cruzada pelo som amigo dos batuques, mas por gritos e gemidos, e a dúvida «se eu estivesse lá?». Era uma pergunta sem resposta simples, as fotografias tinham feito o seu trabalho, a violência das imagens sobrepunha-se ao raciocínio, diminuíam a capacidade de pensar. Pessoas insuspeitas de simpatia pelo regime, partidárias da independência das colónias, leitoras de Fanon ou de Césaire, admitiam participar em milícias nas colónias, invocando a legitima defesa - e os primeiros homens a partir «para Angola e em força» tinham a apoiá-los a maioria de uma Nação longamente adormecida sobre o verdadeiro significado do colonialismo.
Mas os homens continuaram a partir e a máquina de guerra reclamava os amigos cada vez mais próximos: um vizinho, um primo, o irmão mais velho, depois o caçula... Como esquecer o primeiro que foi, o esforço para que a despedida soasse como habitualmente, a forma como, pela primeira vez, se lhe via o rosto, dolorosamente se fixava cada um dos traços, os olhos mais fundos do que o habitual, o sorriso quase a desfazer-se em lágrimas, os maxilares cerrados? ( «Um homem não chora, um homem não chora, um homem não chora ... »).
http://www.guerracolonial.org

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