quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

As Terras do Fim do Mundo

Toda a aldeia corre para o jipe numa alegria arrebatadora, como se um velho amigo tivesse vindo cumprir uma visita há muito prometida, as mulheres largam as maçarocas e sorriem, os homens distribuem apertos de mão. A multidão em redor do veículo adensa-se.
Nivaquela, também conhecido como Machado, uma povoação com menos de duzentos habitantes, na circunscrição de Mandimba, Belém, um punhado de palhotas, uma velha escola de capim, é um teste à resistência humana. Algum fumo no ar, resultado de uma noite fresca no planalto do Niassa, com clima tropical de altitude. No norte de Moçambique, Niassa é terra brava – tem mais feras que homens, montanhas incontornáveis e rios intransponíveis. O norte de Moçambique não era para turistas, era para resistentes a cumprir uma missão: defender o Império – Portugal ia do Minho a Timor.

Militares da C. Caç. 4242 em trabalho
de acção psicológica; corriam os anos
de 1972/74
Quando Livingstone, o primeiro ocidental que desbravou aquelas paragens, no sec. XIX, pisou as terras vermelhas do Niassa, percebeu estar em solo especial e relatou: A levante do lago Niassa, lá onde os rios Rovuma e Lugenda confluem, estão as terras do fim do mundo. 


             Texto da autoria do director do blogue