quarta-feira, 28 de novembro de 2007

32º. CONVÍVIO C.CAÇ. 4242 – MANDIMBA-NIASSA-MOÇAMBIQUE

COMUNICAÇÃO DE MIGUEL SIMAS


32º. CONVÍVIO C.CAÇ. 4242 – MANDIMBA-NIASSA-MOÇAMBIQUE


Restaurante Penedo - Cantanhede


Exmo. representante do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Cantanhede;


Caros Companheiros de Armas,


Minhas Senhoras e meus Senhores,


Sejam todos bem vindos ao 32º Convívio da CCAÇ 4242 desta vez promovido e realizado pelo Milton Mota superiormente apoiado pela Solene sua esposa.


Fará este ano, lá para Novembro, 45 anos, em que um punhado de rapazes saiu de Santa Margarida, em autocarros com destino ao aeroporto de Figo Maduro, de onde partiria num avião Boing 707, da FAP, a caminho da Beira (Moçambique) com escala em Luanda.


Na bagagem levávamos a nossa grande força de viver e a esperança de regressarmos vivos e sãos, coisa que a alguns, infelizmente, não veio a acontecer.


Estamos aqui reunidos com os nossos familiares mais directos para fomentar a amizade e festejar a vida que ainda temos. Ninguém nos pode tirar o mérito de termos sabido preservar as nossas vidas até agora.


Estes momentos de convívio jamais poderão servir para tirar velhos ressentimentos, que por ventura ainda existam por debaixo dos tapetes, para serem esgrimidos contra outros camaradas.


Somos humanos e, quem nunca errou, que atire a primeira pedra! Temos que utilizar o magnânimo Dom de perdoar.


Uns dias antes de vir dos Açores o Almeida, não fosse ele o Psicola, enviou-me um texto intitulado “Enquanto se lutava”, com quatro temas de reflexão para que os apresentasse aqui neste convívio, coisa que o farei de seguida, não sem antes tecer o seguinte comentário.


O título, enquanto se lutava, dá a entender que éramos umas máquinas de guerra, mas não foi bem assim, porque a nossa missão no local que nos encontrávamos foi essencialmente de proteger e apoiar as populações carenciadas e indefesas, em termos sociais e de possíveis ataques.


Nós que até éramos da geração “Make Love, not Word” –Faz amor e não a guerra – o que queríamos era deixar passar o tempo para nos virmos embora para as nossas casas, as nossas noivas e as nossas famílias.


Uma das formas de não sentir passar o tempo era precisamente, fazer o bem e conviver com a dócil população Moçambicana que nos rodeava no quartel em Mandimba.


E foi assim que surgiram várias iniciativas levadas a cabo pela Companhia e que passava a citar:


1 – Assistência às populações.
Para além da assistência quase diária a todos os aldeamentos ao redor do quartel com a distribuição de água, quando esta faltava, de rações, sal e açúcar, gostaria de realçar que, muito perto de nós havia a Aldeia M´Papa, onde eram confinados os doentes Moçambicanos atingidos pela terrível doença da lepra e a quem dedicávamos uma especial e carinhosa atenção;


2 – Construção.
Durante a comissão foi preocupação do Comando da nossa Companhia conservar e melhorar sempre as instalações que nos tinham sido legadas, para além da constrição de um novo paiol, de novos abrigos e de palhotas para habitação dos GE`s;


3 – Também se rezava.
Claro que os camaradas mais crentes o faziam todas as noites a agradecer as dádivas divinas e a pedir um igual dia seguinte enquanto que, os menos crentes, apenas o faziam nas horas de aperto e de aflição;


4 – Também se aprendia.
Com o objectivo de valorização do pessoal a Companhia criou as “Aulas Regimentais”, superiormente dirigida pelo Furriel Almeida, professor de profissão, coadjuvado pelo 1º. Cabo Gaspar Mulessima também ele professor.
Assim se conseguiu que vários militar, Moçambicanos e da metrópole, tivessem tirado a 3ª e a 4ª classes com aproveitamento escolar de 100 %.
Ainda antes de terminar tenho a honra e o privilégio de vos apresentar uma peça de guerra do meu museu particular, um disparador Tipo MUV, de fabrico soviético e que fazia parte integrante de uma mina anti-pessoal.
O disparador que vos mostro é constituído por um cilindro metálico onde dentro tem um precursor, sob pressão de uma mola helicoidal que é travado o seu movimento por uma cavilha.
Esta puxada inicia de imediato o movimento do precursor que ao embater num detonador, constituído por uma cápsula fulminante reforçada com um pouco de tetril, provoca uma detonação que, por simpatia, faz detonar uma carga explosiva normalmente petardos de trotil.
Ao conjunto do disparador e do detonador chama-se espoleta.
Finalmente resta-me dizer-vos o seguinte:
  1. Agradecer a deferência do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Cantanhede, em que ao fazer-se representar neste evento pelo assessor Dr. Casas, demonstra o respeito e consideração para quem, muito novos, arriscaram a vida;
  2. Agradecer a presença de todos os presentes com os votos que este convívio sirva de fermento para o próximo;
  3. Agradecer a hospitalidade do Milton Mota e do Santos que tão bem divulgaram e organizaram este evento;
  4. E, porque os últimos são os primeiros, um agradecimento muito especial à Solene, companheira de sempre do Mota, que confeccionou e nos presenteou com tão ricos manjares;
  5. Por último não podemos jamais esquecer os nossos Companheiros da CCAÇ 4242 que deste mundo já partiram. Eles farão sempre parte de nós pelo que, de pé, pedia um minuto de silencia em sua memória.


Desejo-vos a todos a continuação de um saudável convívio com votos de um bom regresso às vossas casas e de muita saúde para todos.


Obrigado pelo tempo que vos roubei.

Miguel Simas