terça-feira, 18 de novembro de 2014

Os Cus de Judas



“(….) - Se fosse, dava-lhe um tiro nos tomates. O burocrata idoso que seguia à minha frente voltou-se para trás assarapantado, uma senhora disse para outra Chegam todos assim lá de África, coitadinhos, e eu senti que me olhavam como se olham os aleijados que rastejam de muletas nas cercanias do Hospital Militar, sapos coxos fabricados pela estupidez do Estado Novo, que ao fim da tarde, no Verão, escondiam os cotos envergonhados nas mangas das camisolas, pombos doentes pousados nos bancos do Jardim da Estrela, ou misturando-se com as prostitutas que na Rua Artilharia Um roçam as ancas ossudas pelos Mercedes a diesel de construtores civis de fósforo nos dentes, a suarem de cio sob os chapéus tiroleses. (…)”
António Lobo Antunes, Os Cus de Judas, Pag. 103, Publicações Dom Quixote