quinta-feira, 12 de julho de 2018

As pontes do Mota - Há 45 anos

O leito do Rio Mandimba,
com baixo caudal
Ponte sobre o rio Mandimba,
muito perto do quartel
NIASSA, MANDIMBA - 11 de Julho de 1973. São 10 horas da manhã. Cheguei do mato há 36 horas e estou no parrot, em pleno descanso na luta com uma "laurentina". Inesperadamente entra pela porta de armas o visionário Ferrão, chefe da Pide local, com informações altamente secretas. Seguidamente surge o nosso Cap. Moreira Nunes, convencidíssimo que as informações emanadas eram altamente fidedignas e eis  formada a convicção de que era uma operação à medida dos GE`s, ali mesmo na fronteira com o Malawi. Os militares cumpririam certamente o seu dever ainda na lembrança da mentalização que uma alta patente militar debitou: "os soldados portugueses são tão bons como os melhores." 
Após o acidente
Parrot
Lá vai o Mota chamar o companheiro condutor Aguiar para me transportar aos aldeamentos onde viviam os GE`s do meu grupo 401 para que se apresentassem no quartel tão breve quanto possível. Na missão de chamar os militares e logo à saída do quartel, na aproximação da ponte do rio Mandimba, a caminho do Matreze, qualquer coisa não funcionou na viatura e quando dou por ela já estávamos no leito do rio. Eu fui cuspido da viatura, aparentemente apenas com escoriações à vista, e o Aguiar ficou com metade do corpo - da cinta para baixo - sob a viatura, sendo evacuado para Nova Freixo.
Assim se servia a Pátria. Cumprir uma missão: Portugal ia do Minho a Timor. E meditar na frase daquele general (de ar condicionado) "Sinto nos vossos semblantes a alegria de terem servido a Pátria."

Abaixo transcrevo uma carta que enviei à minha namorada - a minha esposa Solene, a descrever o acidente:


(...) Hoje de manhã quando tive que sair no Jeep e ao passar por uma ponte, o condutor enfiou-nos lá para baixo. A queda foi de 6 metros de altura, para cima de pedra. Eu só fechei os olhos e quando os abri e vi que estava vivo, sem nada partido, assim como o condutor, até me pareceu que acabava de nascer novamente. Eu só tenho um arranhão no nariz; o condutor Aguiar é que ficou um pouco pior, mas não tem nada partido. Este foi o dia que tive mais sorte na vida. O jeep ficou todo amassado, sem conserto. Enfim, como vês elas acontecem quando menos esperamos, mas se não morri desta aqui, em Moçambique, também já não devo morrer.
Agora quero pedir-te o favor de não dizeres nada disto à minha mãe ou ao Vieira.(...)

Um abraço a todos os militares da CCAÇ 4242 e CART 2764
Milton Mota