sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

DISCURSO DO SIMAS

Antes de mais queria saudar todos os ex-combatentes da CCAÇ 4242 aqui presentes que, respondendo à chamada do ex-soldado condutor Joaquim Cebola, que tinha como nome de guerra “Nisa”, se dignaram fazer um interregno nas sua vidas e deslocarem-se dos sítios mais recônditos deste País para nos virmos abraçar e celebrar a vida que ainda temos com a saúde que nos resta.
Muito mais do que uma refeição, estes momentos de convívio, de reviver recordações e de saudade dos tempos da nossa juventude, marcada pelo estilete da guerra e de África, são muito importantes para, na terceira idade em que todos já nos encontramos, alimentarmos o nosso ego e dizer aos outros em alto e bom som que, apesar de obrigados, não fizemos nada que nos envergonhasse.
Se da guerra temos recordações menos boas, pelos companheiros mortos e feridos, de África, concretamente de Moçambique, julgo todos termos as melhores recordações.
O seu clima com a época das chuvas, sinónimo de viaturas atascadas e das secas quando se faziam as célebres queimadas que renovavam a paisagem e revitalizavam os terrenos de tal forma que toda a semente que no solo caia germinava.
As suas gentes, na nossa zona essencialmente Ajauas e Macuas, estes últimos de tez mais escura, dóceis no trato e de fácil relacionamento, em que algumas das moças se prestavam para namoriscar com alguns de nós.
Descansem que não vou mencionar nomes!...
Pessoalmente, África marcou-me profundamente pois que foi lá que, a meio da comissão resolvi iniciar a vida em conjunto com a minha companheira Ana, com quem já namorava há cinco anos.
Em boa hora o fizemos. Como todos também temos passado por algumas agruras, mas temo-nos amado muito, fizemos duas filhas lindas e já vamos com um casal de netos.
Aproveito ainda para saudar as companheiras dos CCAÇs aqui presentes pela coragem e paciência de terem de aturar os vossos companheiros que, ao que agora dizem, sofrem de sindroma traumático pós guerra!
Saúdo também os companheiros ausentes que, estando espalhados pelo continente Português, o Raposo em Bristol EUA e o Brasileiro no seu Brasil, não marcaram presença certamente por motivos de vária ordem.
Aos companheiros mortos, uns no teatro de operações e outros pela lei natural da vida, para eles o Eterno Descanso. No meio destes permitem-me destacar o Fevereiro que, com a sua viola e alegria contagiante nos fez passar por momentos de convívio muito agradáveis em que ficava sempre renovado o nosso desejo do regresso a casa.
Em memória de todos eles, de pé, vamos cumprir um minuto de silêncio.
Gostava de agradecer ao Almeida Psicola e ao filho Rui Jacaré o trabalho da criação e manutenção do Blogue da CCAÇ. 4242 que tem sido o traço de união entre todos nós.
Ao Joaquim “Nisa”, à esposa e aos filhos que também se envolveram, os meus agradecimentos pelo trabalho na organização deste evento. Parabéns.
Finalmente permitem-me ainda, passados quase 42 anos sem nos encontrarmos, agradecer a presença do Manuel Moreira Nunes.
Seguindo o lema sejamos generosos no elogio e comedidos na critica e porque não vem nem podia vir na História da CCAÇ 4242, é altura de todos nós tomarmos conhecimento, de duas intervenções decisivas do Capitão Moreira Nunes no sentido da nossa Companhia não ter sido mais sacrificada e ou martirizada.
A primeira foi que, quando chegados à Beira e depois também em Nampula, nós que tínhamos Guia de Marcha para Mandimba, haviam forças ocultas de altas esferas que nos queriam empurrar para outros sítios mais “quentes”. O Capitão Nunes, e bem, fez o que tinha a fazer que foi o de defender com firmeza o local a que inicialmente estávamos destinados – Mandimba.
Quanto à segunda os que por lá andaram presenciaram mudanças no teatro de operações de várias companhias. Umas por castigo eram atiradas para o Lunho, etc., havendo ainda uma política de, a meio das Comissões, as Companhias rodarem indo para zonas menos boas se estavam em zonas boas e para zonas boas, para descansarem, caso estivessem em zonas de porrada como se dizia.
Apesar de tudo o que passamos, nenhum de nós queria pior, e a meio da nossa comissão houve quem nos quisesse empurrar para zona de mais barulho e foi o Capitão Nunes que se opôs argumentando o que entendeu, mas lá continuamos.
Como sabeis, o Capitão Moreira Nunes era o responsável máximo no terreno pelas nossas acções, pelos nossos actos e omissões e também pelas nossas vidas.
Hoje, todos adultos, conhecemos bem o peso das responsabilidades.
Perante vós aqui e agora quero dizer em alto e bom som “Obrigado Capitão Nunes por me teres trazido de volta com vida e saúde”.

Bem hajam a todos, um bom regresso ás vossas casa e… até para o ano!.
M M SIMAS