sábado, 17 de março de 2007

O caso dos Padres da Beira

"D. Eurico Dias Nogueira teve vários contactos com dirigentes da Frelimo e designadamente com Sebastião Mabote, um dos míticos chefes da guerrilha e que viria a ser vice-ministro da Defesa.
Um desses contactos é documentado num relatório da PIDE, de 14 de Outubro de 1968, com o título «O Prelado da Diocese de Vila Cabral perante a Frelimo». Da autoria da delegação de Moçambique e com a classificação de A-1 (máxima fidedignidade), foi dado a conhecer ao novo Presidente do Conselho, Marcello Caetano, bem como aos ministros do Ultramar (Silva Cunha) e Defesa (general Sá Viana Rebelo).
Diz o relatório que, a 1 de Abril, no decorrer de um ataque à base da Frelimo na província do Niassa, «foram encontrados e capturados vários documentos», entre eles uma carta dirigida a um tal «BX», que a polícia tem como certo tratar-se de D. Eurico.
Procurando aprofundar esta pista, a PIDE indagou junto de um «destacado terrorista da Frelimo, Subchefe do Sector ou Zona B – Distrito de Mandimba, com sede na Base Catur». O relatório não esclarece os meios utilizados para a obtenção das informações - apenas faz o relato daquele dirigente. Assim, e a fazer fé neste relato, o bispo «vem mantendo contactos directos com chefes da Frelimo» desde 1966. Nesse ano, o prelado «teve um encontro em Vila Cabral com o então Chefe da Base de Instrução de Chala, de nome Horácio Nunes, natural da Zambézia. Tal encontro foi comunicado ao Sebastião Mabote», chefe operacional do Niassa, «que mandou uma carta» a D. Eurico através do mesmo Horácio Nunes.
A PIDE nada adianta sobre o conteúdo da carta de Mabote, que, após a independência de Moçambique, em 1975, viria a ocupar os cargos de vice-ministro da Defesa e Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas. No entanto, é provável que seja a carta que viria a ser publicada em 1995 por D. Eurico no seu livro de memórias «Episódios da Minha Missão em África» (págs. 81 e 82). Vale a pena citar na íntegra: «Desde há tempos que desejo ter uma conversa pacífica com você», escreve Mabote. «Mas não tenho conseguido, porque a tropa fascista, colonialista e imperialista de Salazar não nos permite tranquilidade nessa sua área. Mas se você indicar uma base de segurança, eu enviarei um emissário para combinar o encontro. Entretanto, para prova do seu espírito internacionalista, mande pelo portador um garrafão de cinco litros de vinho, para festejarmos o próximo aniversário do início da nossa luta.»"
site de Dornelas do Zêzere


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