10NOV1972 – Campo Militar de Santa Margarida -
(…) Na 3ª feira à noite fomos à feira da Golegã, no mini do Saramago Leite; outros foram no veículo do Almeida Vago. Objectivo: beber uma água-pé e esquecer que dentro de 15 dias iríamos embarcar para Moçambique para defender, com orgulho e sentido de responsabilidade, Portugal. Amanhã vai à feira da Golegã, o Tomás presidente papar mais uma jantarada e a Gertrudes cortar uma fita.O dia 11 começa a acordar num torpor de ressaca - que o diga o Azevedo - como se fosse difícil sacudir o sono.
Um a um os homens vão despertando a custo.
Segundo novas informações iremos para Marrupa. É no Niassa, numa zona mais operacional do que Mandimba, zona que inicialmente nos estava destinado. A certeza só a teremos quando chegarmos.
A partir daquele momento o valor da vida descerá a cada metro a percorrer por aquela fila de combatentes que se embrenhará nas matas densas daquele planalto do Niassa, lá onde há mais feras do que homens.
A partida para Moçambique está agendada para as 21 horas do dia 28 de Novembro - uma 3ª feira, num boeing 707 dos TAM. A viagem do campo militar de Stª Margarida até Figo Maduro será efectuada em autocarros, ao escurecer, para que ninguém veja mais uma manada de carne para canhão a partir para aquelas longínquas paragens que Livingstone considerou as "terras do fim do mundo".
Diário de um militar da C. Caç. 4242
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