Antes
de mais queria saudar todos os ex-combatentes da CCAÇ 4242 aqui presentes que,
respondendo à chamada do ex-soldado condutor Joaquim Cebola, que tinha como
nome de guerra “Nisa”, se dignaram fazer um interregno nas sua vidas e
deslocarem-se dos sítios mais recônditos deste País para nos virmos abraçar e
celebrar a vida que ainda temos com a saúde que nos resta.
Muito
mais do que uma refeição, estes momentos de convívio, de reviver recordações e
de saudade dos tempos da nossa juventude, marcada pelo estilete da guerra e de
África, são muito importantes para, na terceira idade em que todos já nos
encontramos, alimentarmos o nosso ego e dizer aos outros em alto e bom som que,
apesar de obrigados, não fizemos nada que nos envergonhasse.
Se
da guerra temos recordações menos boas, pelos companheiros mortos e feridos, de
África, concretamente de Moçambique, julgo todos termos as melhores
recordações.
O
seu clima com a época das chuvas, sinónimo de viaturas atascadas e das secas
quando se faziam as célebres queimadas que renovavam a paisagem e revitalizavam
os terrenos de tal forma que toda a semente que no solo caia germinava.
As
suas gentes, na nossa zona essencialmente Ajauas e Macuas, estes últimos de tez
mais escura, dóceis no trato e de fácil relacionamento, em que algumas das
moças se prestavam para namoriscar com alguns de nós.
Descansem
que não vou mencionar nomes!...
Pessoalmente,
África marcou-me profundamente pois que foi lá que, a meio da comissão resolvi
iniciar a vida em conjunto com a minha companheira Ana, com quem já namorava há
cinco anos.
Em
boa hora o fizemos. Como todos também temos passado por algumas agruras, mas
temo-nos amado muito, fizemos duas filhas lindas e já vamos com um casal de
netos.
Aproveito
ainda para saudar as companheiras dos CCAÇs aqui presentes pela coragem e
paciência de terem de aturar os vossos companheiros que, ao que agora dizem,
sofrem de sindroma traumático pós guerra!
Saúdo
também os companheiros ausentes que, estando espalhados pelo continente
Português, o Raposo em Bristol EUA e o Brasileiro no seu Brasil, não marcaram
presença certamente por motivos de vária ordem.
Aos
companheiros mortos, uns no teatro de operações e outros pela lei natural da
vida, para eles o Eterno Descanso. No meio destes permitem-me destacar o
Fevereiro que, com a sua viola e alegria contagiante nos fez passar por
momentos de convívio muito agradáveis em que ficava sempre renovado o nosso
desejo do regresso a casa.
Em
memória de todos eles, de pé, vamos cumprir um minuto de silêncio.
Gostava
de agradecer ao Almeida Psicola e ao filho Rui Jacaré o trabalho da criação e
manutenção do Blogue da CCAÇ. 4242 que tem sido o traço de união entre todos
nós.
Ao
Joaquim “Nisa”, à esposa e aos filhos que também se envolveram, os meus
agradecimentos pelo trabalho na organização deste evento. Parabéns.
Finalmente
permitem-me ainda, passados quase 42 anos sem nos encontrarmos, agradecer a
presença do Manuel Moreira Nunes.
Seguindo
o lema sejamos generosos no elogio e comedidos na critica e porque não vem nem
podia vir na História da CCAÇ
4242 , é altura de todos nós tomarmos conhecimento, de duas
intervenções decisivas do Capitão Moreira Nunes no sentido da nossa Companhia
não ter sido mais sacrificada e ou martirizada.
A
primeira foi que, quando chegados à Beira e depois também em Nampula, nós que
tínhamos Guia de Marcha para Mandimba, haviam forças ocultas de altas esferas
que nos queriam empurrar para outros sítios mais “quentes”. O Capitão Nunes , e bem, fez
o que tinha a fazer que foi o de defender com firmeza o local a que
inicialmente estávamos destinados – Mandimba.
Quanto
à segunda os que por lá andaram presenciaram mudanças no teatro de operações de
várias companhias. Umas por castigo eram atiradas para o Lunho, etc., havendo
ainda uma política de, a meio das Comissões, as Companhias rodarem indo para
zonas menos boas se estavam em zonas boas e para zonas boas, para descansarem,
caso estivessem em zonas de porrada como se dizia.
Apesar
de tudo o que passamos, nenhum de nós queria pior, e a meio da nossa comissão houve
quem nos quisesse empurrar para zona de mais barulho e foi o Capitão Nunes que se opôs
argumentando o que entendeu, mas lá continuamos.
Como
sabeis, o Capitão Moreira Nunes
era o responsável máximo no terreno pelas nossas acções, pelos nossos actos e
omissões e também pelas nossas vidas.
Hoje,
todos adultos, conhecemos bem o peso das responsabilidades.
Perante
vós aqui e agora quero dizer em alto e bom som “Obrigado Capitão Nunes por me teres
trazido de volta com vida e saúde”.
Bem
hajam a todos, um bom regresso ás vossas casa e… até para o ano!.
M M SIMAS
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