"Era noite. E a noite sempre esteve ligada às más notícias. Todos os grupos de combate se encontravam no quartel. Os soldados tomavam um banho para retirar o suor de quatro dias. Alguns procuravam lavar da memória a triste cena do furriel e dos dois soldados a irem pelos ares no rebentamento das minas anti pessoais. Depois, a caírem, num berro, a olharem para a perna que ficava longe. Depois, estendidos no chão, gritavam com dores e apalpavam a perna que momentos antes os fazia andar. Depois um deles a dizer que o matassem, pois as dores eram enormes. Depois, o outro soldado a chamar pela mulher. Depois, o furriel, muito calmo, de olhos para o local da perna que já não tinha.
E esses soldados misturavam o sabão e a água às suas lágrimas. E esses soldados esfregavam muito bem as suas pernas como se certificassem que ainda se encontravam sobre os dois pés.
A água, o sabão e as lágrimas nunca restituíram as pernas que tinham ficado para os animais comerem.
A Força Aérea, que fora fazer a evacuação, respondera que já não eram precisas [as pernas] e não as transportou."
“Cancela Tropa - O Uivo da DGS” – História da autoria de um militar da C. Caç. 4242 - Mandimba
1 comentário:
Olá camaradas de armas.
Sou antigo combatente,não faço parte da V,Companhia.mas estou aqui apenas a confirmar que o que foi descrito era pura realidade,pois passou-se comigo.numa coluna entre Nancatari e Muirite em cabo delgado perto de Mueda.
O morto que tivemos vitima de uma mina anti pessoal ficou todo desfeito e uma perna e um braço,nunca mais apareceram nem a sua g3.chamava-se Sitola e era africano porque a nossa companhia era mista.
Um grande abraço para todos os ex combatentes.
FURRIEL MIL,DIAS C.CAÇ.4153
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