quinta-feira, 28 de novembro de 2024

ADEUS. ATÉ AO MEU REGRESSO.

HÁ 52 ANOS - como se tivesse sido ontem, nunca mais esquecerei a partida dos militares da minha companhia C. CAC. 4242, rumo a Moçambique, já naquele longínquo ano de 1972 – há 52 anos. Terminada a instrução no campo Militar de Stª Margarida, logo a malta se condoeu com a sua triste sina: - Coitados! Lá vai mais uma manada de carne para canhão.Na ingenuidade dos nossos verdes anos, acreditávamos que “a Pátria sempre presta a devida homenagem aos seus melhores” mas... A partida de Stª Margarida para o aeroporto Figo Maduro foi de certa forma fugaz e dissimulada. Partimos em autocarros civis de passageiros, ao entardecer, direitinhos para o avião. Sim, nos últimos anos da guerra colonial os militares iam de Boeing das Forças Armadas – aviões comprados à TAP (os americanos já não vendiam a Portugal). Não me lembro de haver familiares na despedida daqueles soldados. Não me lembro de ver alguma entidade superiora na despedida, como acontecia na viagem de barco, com partida da Rocha do Conde de Óbidos: “Sinto no vosso semblante a alegria de irem servir a Pátria” (António Lobo Antunes). Partimos para Moçambique na noite de 28 de novembro de 1972, rumo à Beira, depois Nampula e finalmente Mandimba, Niassa, na fronteira com o Malawi, onde permanecemos quase 2 anos. "A viagem de Nampula até Mandimba levou praticamente 2 dias. Saímos após o almoço de Nampula naquelas camionetas de carga gigantes a apanhar sol ou chuva e muito pó. Já noite, chegamos a Ribaué, empoeirados e esfomeados, ninguém nos esperava, pelo que o nosso jantar foi uma sopa mal-amanhada. Se para jantar não havia nada muito menos para dormir. No dia seguinte, pela manhã, seguimos viagem até Nova Freixo, porcos e mal cheirosos, pó e chuva não faltou, mas a curiosidade pela paisagem que nos rodeava fazia-nos esquecer o desconforto da viagem. Chegados a Nova Freixo fomos apresentar-nos ao batalhão que nos irá dar o apoio logístico durante o tempo que estivemos em Mandimba.Pelo meio da tarde partimos para Mandimba, onde iríamos chegar já noite dentro (aqueles 150km de picada para mim não foram nada fácil). No quartel de Mandimba fomos encontrar militares exaustos já com 30 meses em terras de Moçambique. Naquela primeira noite, para nós, em Mandimba ninguém dormiu, pois aqueles que fomos render de tanta alegria por regressar a Portugal não mais se calaram" (Milton Mota). Honra, glória e louvor aos militares da Companhia de Caçadores Independente 4242! Abraço deste vosso amigo Almeida Psícola